" A minha vida é monótona. Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
- Por favor... Cativa-me! - Disse a raposa. - Bem quisera disse o princepezinho. Mas tenho pouco tempo e amigos a descobrir e coisas a conhecer. - A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens já não têm tempo de conhecer coisas alguma. Compram tudo pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, eles já não têm amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! - Que é preciso fazer? - É preciso ser paciente. Sentarás primeiro longe. Eu te olharei e tu não dirás nada. Linguagem é fonte de mal entendidos. Mas cada dia sentarás mais perto... e virás sempre na mesma hora. Se tu vens às 4, desde as 3 eu comecerei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às 4 horas, então, eu estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade. Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... Assim, o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse: - Ah! Eu vou chorar. - A culpa é tua, disse o Principezinho. Eu não queria te fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse... - Quis. - Mas tu vais chorar! - Vou. - Então não ganhas nada! - Eu lucro, por causa da cor do trigo."
" Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas..."
Antoine Saint-Exupéry - "O Principezinho"
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