Eu sou uma pessoa introvertida. Eu sei, não parece, mas acreditem quando digo que sou. Valorizo muito o "meu" espaço, gosto muito de estar comigo e com as "minhas" pessoas. Gosto de festas, é certo, principalmente se tiver jantar, porque o meu espaço está definido. Multidões só para concertos e mesmo assim, se puder ser em concerto sentado, melhor. Gosto muito da minha bolha individual, preciso do meu tempo para algumas rotinas e custa-me quando, sem aviso, tenho que receber pessoas ou ir a sítios para estar com pessoas. O meu sistema comunicacional e relacional é pouco extravagante e um tanto ou quanto rudimentar. Falar em público é um suplício.
Quando, com 17 anos, comecei nos primórdios do agrupamento, apresentar-me em voz alta era uma tarefa que me fazia tremer a voz e me causava algum nervoso miudinho. O crescimento pessoal, adjacente ao passar dos anos, mune-nos de ferramentas para conseguirmos sobreviver no mundo (complexo) dos adultos, principalmente ao nível das conversas e opiniões.
Agora já consigo dar opinião em grupo, num ambiente informal com maior facilidade do que num ambiente formal e, obviamente, alguns assuntos mais do que outros. Há temas que evito com determinadas pessoas porque são controversos e eu tendo a fugir a discussões, daquelas que antecipas que possam ter vozes altas e formas de falar agres. Estas discussões causam-me muita ansiedade. Valorizo mais conversas pausadas, sem muitas vozes ou diálogos cruzados. Aceito todos os temas quando é permitida uma discussão saudável.
Acontece que, num agrupamento de escuteiros, há-de tudo menos esse tipo de relação comunicacional. O que há mais é conversas cruzadas, maioritariamente em voz demasiado alta, muito ruído de fundo e pouca calma. A minha capacidade de concentração desce a níveis cavernais, tenho dificuldade em encontrar a altura certa para interromper e apresentar o meu ponto de vista. Canso-me muito, nestas situações. Acho que fico mais cansada do que numa noite a dormir no chão. No "meu" agrupamento estou rodeada de pessoas que são totalmente extrovertidas e de quem gosto muito e a quem admiro muito. Pessoas que conseguem fazer muitas coisas sem se perderem. Pessoas a quem eu admiro a capacidade de conversação, do mil e quatrocentos assuntos que conseguem encaixar e resolver enquanto se janta. Eu mal consigo encontrar tema para conversar, se estiver com fome então...
Introvertida, como sou e no entanto, vou todos os sábados, na esperança de os encontrar, de poder conversar com eles, de os encontrar felizes, de gargalhar com eles. Apesar do cansaço inerente à confusão do sábado, são um porto de abrigo, um ponto de ligação ao meu eu introvertido, uma luz na escuridão da minha timidez e insegurança.
Por isso as frases dizem e com razão "FICA COM QUEM TE ILUMINA O CORAÇÃO!"
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