“Tenho uma coisa para te dizer" disse-me o Sabino, numa tarde de luto. “Continua a escrever. Já te li várias vezes e tens uma forma alegre de contar histórias.”
Agradeci em palavras e em pensamentos, mas nem sempre é fácil, nem sempre há motivação ou tema. Também acontece, frequentemente, não permitir muito tempo à escrita nem à imaginação. É mesmo com tristeza que escrevo, não ter sido fiel ao pedido que me fez há alguns anos.
Sempre encontrei no Sabino - há quem até o chame de Américo, o que não está totalmente errado, não fosse esse o seu primeiro nome - além do amigo de família, um ser humano carregado de empatia e muita brincadeira, com a sua Fátima, lado a dado e o brilho no olhar, de quem guardou dentro de si a felicidade.
Quando eu era criança, dificilmente conseguia resistir sem gargalhar, às anedotas que contava, quando partilhávamos a viagem de regresso à casa de cada um.
Agora, já adulta, continuo sem conseguir conter o sorriso, sempre que nos cruzamos. O encontro começa com um entusiasmado “Olha… olá miúda!”, a conversa flui com naturalidade e depois das despedidas, já com alguma distância a ecoar, sibila “e não te esqueças de escrever!”
Querido Sabino, hoje escrevo porque reencontrei na minha memória a tua voz de incentivo a ecoar, mas escrevo, principalmente, para dar forma a todas as vozes que, como a tua, valorizam, dignificam e marcam a vida das pessoas a quem se dirigem.
Com a velocidade a que circulam hoje as resoluções e os objetivos diários, poucos sãos os momentos em que falamos de intenção, em que as nossas palavras servem para erguer, para motivar e não apenas para justificar as ações ou roubar um bocadinho da atenção.
As palavras, Sabino, as tais de incentivo que hoje ecoaram, são as que realmente importam de serem faladas, ouvidas e guardadas. A voz de quem as transmite é muito poderosa, há quem consiga compreender o que é a comunicação e há quem simplesmente chute com a boca, sem perceber que as palavras precisam de ser oxigenadas e bombeadas pelo coração. Tenho para mim que, nesse instante, o melhor é calar, parar de respirar e engolir o ar que dá forma à parvoíce falada. Não é fácil, eu sei.
Às vezes sai com cada penálti declamado!
Muito podia escrever sobre as vozes das palavras mas eu quero apenas cultivar como tu, Sabino, as expressões bonitas e amáveis, ditas em tom jovial, do alto desses setentas com que ainda gracejas a nossa vida.
Foi do poder das palavras ecoadas que novamente me apercebi da importância de tudo o que dizemos ou deixamos de dizer.
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