A senhora da padaria da esquina via a rua pelo canto do olho. Denunciava a chegada dos fregueses habituais, apenas pelas sombras da calçada, e o esvoaçar dos pombos anunciavam alguma alma apressada.
A senhora da padaria da esquina aprendeu a ler nas entrelinhas de cada sola de sapato que cruzava a sua linha de olhar com a da soleira da porta, o ritmo que a cidade exigia a cada par de pés:
os mais barulhentos passavam de cabeça erguida, com um futuro árduo pela frente;
os mais arrastados passavam porque não podiam parar, transportando um passado carregado;
os mais ponteados passavam decididos não fosse a cidade parar de repente;
os mais melodiosos, demoravam mais tempo a cruzar a linha do seu olhar com a porta da sua padaria, mas sem pressas entravam e escolhiam cada migalha como se de pedras preciosas se tratasse.
A senhora da padaria da esquina aprendeu a ter paciência com o ritmo da cidade até porque ainda meio mundo dormia e já só sobravam meia dúzia de carcaças para um ou outro esfomeado apressado!
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