Avançar para o conteúdo principal

Filhos da Liberdade

Apesar de, num qualquer dia normal do calendário, me virem vestida de sorriso nos lábios, eu sou das que chora desalmadamente, sem conseguir controlar as lágrimas, por todo o sofrimento ou amor implícito, escrito em livros, produzido em filmes ou nas histórias das pessoas que me são mais próximas e que sofreram tanto a guerra que outros declararam. Não há forma de as controlar, sou esta extrema sensibilidade de quem sente sempre demasiado. Ao ler "Os filhos da liberdade" de Marc Levy, as lágrimas são mais salgadas porque me vêem à memória as histórias das minhas avós (e todas as outras pessoas, na altura) na sua luta pela sobrevivência durante a guerra, das filas para o azeite e para o pão, da sardinha dividida por todos os filhos, cada uma num ambiente diferente e tão igualmente injusto. As lágrimas secam na pele da cara, enquanto escrevo este texto. E hoje eu até tenho o direito (e mais alimentos em cima da mesa) de dizer que não gosto de sardinhas, só porque é muito chato tirar as espinhas!

"Terás então de lhes pedir uma coisa da minha parte, dizer-lhes que isso representava muito para mim. É um pouco como se cumprissem uma promessa que o pai deles tivesse feito num passado que já não existe. Porque esse passado de guerra já não existirá, vais ver. Dir-lhes-ás que contem a nossa história no seu mundo livre. Que nos batemos por eles."

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Relatos de um Ansiosa Pouco Anónima #1

Recordo-me, como se fosse ontem, mas já lá vão 8 anos... Eu sabia que o meu estilo de vida era, na altura, extremamente acelerado e movimentado.  Para além do laboral, acumulava e ainda acumulo, mais algumas atividades de responsabilidade que exigem planeamento e preparação e, por ser demasiado exigente comigo própria, estava constantemente em sobressalto, até que ...  a primeira crise de ansiedade acontece , com sintomas físicos que nunca tinha experienciado, não com a intensidade sentida, principalmente quando me preparava para descansar.  No final do dia, naquele parque de campismo, já a criançada dormia e na tenda dos adultos, todos os músculos do corpo entram num frenesim, o coração parece que está a correr a maratona mas sem se conseguir medir a pulsação, uma dor terrível no peito e falta de ar. Nessa noite, o acampamento passou para as urgências mas prosseguiu de forma normal depois do diagnóstico final. Aprendi a identificar o início de cada crise de ansiedade (fo...

disse-me um dia o Sabino

“ Tenho uma coisa para te dizer" disse-me o Sabino, numa tarde de luto. “Continua a escrever. Já te li várias vezes e tens uma forma alegre de contar histórias.”   Agradeci em palavras e em pensamentos, mas nem sempre é fácil, nem sempre há motivação ou tema. Também acontece, frequentemente, não permitir muito tempo à escrita nem à imaginação. É mesmo com tristeza que escrevo, não ter sido fiel ao pedido que me fez há alguns anos.  Sempre encontrei no Sabino - há quem até o chame de Américo, o que não está totalmente errado, não fosse esse o seu primeiro nome - além do amigo de família, um ser humano carregado de empatia e muita brincadeira, com a sua Fátima, lado a dado e o brilho no olhar, de quem guardou dentro de si a felicidade.  Quando eu era criança, dificilmente conseguia resistir sem gargalhar, às anedotas que contava, quando partilhávamos a viagem de regresso à casa de cada um.  Agora, já adulta, continuo sem conseguir conter o sorriso, sempre que ...

coisas que podiam ser eliminadas da humanidade e não se perdia nada

o palavrão, filho da p**a ou qualquer outro que envolva a mãe do destinatário.  eu até sou devota de uma boa asneira dita no momento certo e na hora certa, porra, (este caso não é exemplo, é só um murro na mesa) mas reparem como esta expressão, especificamente, nada liga ao interlocutor mas sim à mãe do dito cujo, como se a pobre senhora tivesse culpa da estupidificação do seu descendente. Deixem as mães em paz e chamem o diabo p'lo nome!