Da minha experiência, as Avós vestem capas...
As minhas, de super tinham tudo. Conseguiam libertar alguns impossíveis das probabilidades, segundo consta. Até pode ser verdade, que eu lembro-me de comer esparregado e até algumas sardinhas. As avós davam-nos a liberdade paternal com uma bolacha maria tirada do avental ou uma rabanada de cenoura comprada na D. Ema. O espaço das avós era doce e seguro e tenho em crer que o segredo da eternidade das avós estava na vontade em fazer os netos felizes.
A Vó Maria segurava-me ao colo num dia de visita ao galinheiro. Só deus sabe o medo que eu tinha de galinhas mas, se o mano ia, eu também ia, tal era a curiosidade! O medo pelas galinhas nunca consegui superar e tantas vezes que agora dava jeito o colo da avó. Ao domingo à tarde o ponto de encontro da família era à volta da lareira da avó Maria, como forma de preparação para a semana que iria começar. A chaleira queimada de fogo, aquecia muito mais do que o corpo.
Nos lugares da avó Júlia vivíamos dia-a-dia (eu ainda vivo). O 1º andar era centro de estudos da escola, de música, era ATL, refeitório, dormitório e às vezes centro de saúde, quando era hora das vacinas. Não era fácil a relação avó enfermeira/neta-com-medo-de-agulhas/vacinação. Agora recordo com carinho esses momentos caricatos.
Todas as semanas havia uma hora do ditado da enciclopédia mundial. Podia jurar que conseguimos dar mais erros do que as letras escritas. Tenho para mim que a Enciclopédia estava num dialeto que só a avó compreendia. No final ainda tínhamos que corrigir os 40 erros umas 20 vezes. Decidi guardar essa enciclopédia, mas agora tem uns quantos vasos de flores em cima para parecer mais bonita.
Reinventamos os dias das avós com algum floreado que não se compara em nada à beleza da sua presença.
A avó Maria faz hoje 104 anos. É o primeiro ano que celebro a sua vida sem a sua presença. Este será um dia 25 de setembro vivido pela primeira vez.
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